09 maio 2006


ZEUS


Origem

Zeus é citado nas tabuinhas micênicas em Linear B e tem ascendência nitidamente indo-européia. A palavra "Zeus" deriva de um radical primitivo, *dei- ('reluzir'), presente nas principais línguas indo-européias antigas (grego, latim, hitita, sânscrito), sempre associado a uma importante divindade celeste e à claridade do dia. "Dia", aliás, deriva do latim dies e vem do mesmo radical; a palavra portuguesa "deus" tem a mesma origem.
Os epítetos de Zeus nos poemas homéricos, nossa fonte mais antiga, confirmam sua estreita ligação com os fenômenos atmosféricos: "amontoador de nuvens", "trovejante", "o que lança o raio". Na Ilíada, era já considerado filho de Crono e Réia, irmão de Hades e Posídon, e marido de sua irmã Hera. Para os gregos, era o mais poderoso e o mais importante de todos os deuses.
O mito que relata sua infância em Creta é relativamente tardio e parece ser uma tentativa de assimilação do deus celeste, trazido pelos conquistadores micênicos, ao antigo deus-jovem da cultura minóica, ligado à deusa-mãe desde o Neolítico.

Mitos

Zeus ergueu-se então com seu poder, pegou suas armaso trovão, o relâmpago, o ardente raio e,saltando do Olimpo, golpeou-o; (...)

Hes.Th. 853-855

O poder de Zeus se manifestava tanto pela força irresistível, que assegurava sua preeminência entre os demais deuses, como pela inesgotável capacidade fertilizadora.
A ascensão ao poder foi assegurada pela vitória na titanomaquia, que simboliza a vitória dos novos deuses sobre as antigas divindades dos povos pré-helênicos. Zeus venceu, igualmente, todas as ameaças e rebeliões, e por isso era sempre associado à vitória e ao triunfo em batalha.
O domínio de Zeus representava a ordem cósmica, e foi consolidado também através de casamentos e ligações amorosas com diversas deusas e mulheres mortais. Em decorrência de suas numerosas aventuras, popularizadas pelos mitógrafos por causa dos disfarces que usava, Zeus teve numerosos filhos, entre deuses, heróis, reis e outros mortais, sempre à revelia da ciumenta Hera, sua esposa legítima.
Em sua sabedoria e soberania inconteste, era Zeus quem tomava as decisões que influenciavam a evolução do mundo e já era chamado de pai — ou rei — dos deuses e dos homens, possivelmente, desde os tempos micênicos. Seu poder não era, no entanto, absoluto e indiscriminado; na Ilíada é nítido o respeito que tinha pelas divindades mais antigas, como Nix, a noite, as Moiras e, de certa forma, também pelos deuses a ele subordinados.
Zeus personificava a justiça divina, e sua imparcialiadade era simbolizada pela balança com que "pesava o destino" dos homens. A soberania dos reis e por extensão as leis humanas e a justiça, diké, também vinham dele; por isso, a maioria dos reis helênicos mais antigos, como Minos e Tântalo, eram considerados filhos de Zeus. Sob sua proteção estavam também os juramentos, os suplicantes e os hóspedes.

Iconografia e culto
Zeus é representado geralmente como um homem maduro, sentado em um trono com um cetro e um ou mais raios nas mãos; em sua companhia há freqüentemente uma águia, animal que lhe era dedicado.
Seus santuários e templos eram particularmente grandiosos, como o de Dodona, onde ficava um antigo oráculo, e o de Olímpia, onde havia uma famosa estátua esculpida por Fídias no século -V. Os Jogos Olímpicos e os Jogos Nemeus eram celebrados em sua honra.

Ió e Zeus

Ió era filha ou descendente do deus-rio Ínaco, um dos filhos de Oceano e Tétis. A genealogia é um tanto confusa, mas ela sem dúvida pertencia à família real de Argos. Segundo a tradição, quando Ió era sacerdotiza do templo de Hera em Argos e Zeus se apaixonou por ela e ia visitá-la com freqüência.
Hera desconfiou da nova aventura do marido; porém, antes que pudesse fazer alguma coisa, Zeus transformou a moça em uma novilha de grande beleza e passou a encontrá-la na forma de um touro. Mas Hera, acostumada com os truques de Zeus, exigiu que a novilha lhe fosse dada e colocou-a sob vigilância em um bosque de Micenas.
O vigia, que se chamava Argos, tinha cem olhos, enxergava tudo o que havia para ser visto em todos os pontos cardeais e era tão eficiente que, enquanto dormia, fechava apenas cinqüenta olhos de cada vez. Zeus começou a se cansar daquela história e encarregou o eficiente Hermes de liquidar o vigia; mas o ódio de Hera nunca acabava e ordenou a um feroz moscardo que picasse a novilha sem cessar.

A pobre Ió, instigada pelo moscardo, percorreu desvairada- mente toda a Grécia. Indo para o norte, atravessou o Bósforo, assim chamado em sua homenagem (Bósforo significa, literalmente, "passagem da vaca"), passou pela Cítia, encontrou Prometeu junto ao Cáucaso e acabou chegando ao Egito, onde voltou à forma humana e deu à luz um filho de Zeus, Épafos.
Posteriormente Ió desposou o rei do Egito, Telégono, e seu filho Épafo reinou após a morte do pai adotivo. Os gregos consideravam Épafo uma encarnação de Ápis, o touro divino dos egípcios, e Ió foi associada à deusa Ísis.
Agenor, rei da Síria (ou da Fenícia), era bisneto de e de Zeus e tinha vários filhos. Dois deles, Europa e Cadmo, são personagens importantes dos mitos gregos.

O rapto de Europa

Europa era muito jovem, belíssima, e Zeus se apaixonou por ela. Para raptá-la sem chamar a atenção de Hera, sua ciumenta esposa, imaginou uma maneira sutil de se aproximar da mocinha.
Certo dia, Europa e algumas amigas divertiam-se numa praia e viram sair do mar um touro belíssimo, branco, com chifres recurvados como duas luas em forma de crescente. O touro era muito manso: permitiu que se aproximassem dele, que o acariciassem e, ao perceber que Europa se aproximara, deitou-se aos seus pés.
A princesa, encorajada pela beleza e pela brandura do animal, sentou-se em seu dorso. Imediatamente o touro se levantou, correu velozmente para o mar e se lançou na água. Europa, muito assustada, agarrou firmemente os chifres e ficou espantada ao ver que, ao invés de afundar, o touro corria na superfície do mar.
Tratava-se, é claro, do ardiloso Zeus... A deusa Hera, não estava por perto, aparentemente, mas o precavido pai dos deuses e dos homens preferiu não se arriscar e usou a forma de touro para se aproximar da princesa.
O deus conduziu Europa à ilha de Creta, onde assumiu forma humana e uniu-se a ela. Tiveram três filhos: Minos, Radamantis e Sarpédon. Mais tarde, Europa casou-se com Astérion, o rei da ilha, que adotou os filhos de Zeus.

Cadmo

Quando Europa desapareceu, o rei Agenor ordenou aos filhos Cadmo, Fênix e Cílix que saíssem à sua procura e que não voltassem à sua presença sem ela. Durante a longa busca, os irmãos de Europa fundaram diversas cidades e acabaram se instalando definitivamente em outras regiões. Fênix se estabeleceu na Fenícia; Cílix, na Cilícia; e Cadmo, o mais velho, na Grécia.
Cadmo viajou acompanhado da mãe, Teléfassa, e dirigiu-se inicialmente para a Trácia (ou Samotrácia), onde viveu algum tempo. Pouco depois da morte da mãe, aconselhado pelo oráculo de Delfos, parou de procurar Europa e fundou a Cadméia, a acrópole fortificada da futura cidade de Tebas.
Segundo a tradição, o oráculo havia mandado Cadmo escolher o local seguindo uma vaca até que ela caísse de cansaço. Ao encontrar uma vaca com um sinal diferente, Cadmo a seguiu até a Beócia e, no local onde ela parou, fundou a cidade. Para obter água de uma fonte próxima, teve de matar a pedrada um dragão, tido por filho de Ares; logo depois, a conselho de Atena, semeou os dentes do dragão morto.
Dos dentes nasceram diversos guerreiros, totalmente armados e de aspecto ameaçador. Instado por Atena, Cadmo lançou, sem ser visto, uma pedra sobre eles. A pedra desencadeou uma violenta disputa e, no fim da luta, restaram apenas cinco guerreiros vivos, os espartos (i.e., "os semeados"). Eles auxiliaram Cadmo na fundação da cidade e eram considerados ancestrais das famílias nobres de Tebas.
Devido à morte do dragão, Cadmo foi condenado pelos deuses a servir Ares durante 8 anos. No fim do período, Zeus concedeu-lhe a mão de Harmonia, filha de Ares e de Afrodite. Os deuses imortais comparecerem em peso ao casamento, as musas cantaram durante os festejos e a noiva recebeu dois presentes fabulosos: um maravilhoso vestido, tecido pelas Cárites, e um belíssimo colar de ouro, feito por Hefesto.
Cadmo tornou-se rei de Tebas e seu reinado foi longo, tranqüilo e próspero; consta que ele civilizou a Beócia e ensinou aos gregos o uso da escrita. Teve vários filhos: Autônoe, Ino, Agave, Sêmele e Polidoro.
Já idoso, Cadmo entregou o trono de Tebas a Penteu, filho de Agave e Équion (um dos espartos), e retirou-se com Harmonia para a Ilíria, onde se tornou rei e teve outro filho, Ilírio. Viveu ainda algum tempo e, no final da vida, foi tranformado pelos deuses em serpente, juntamente com Harmonia; em outra versão, ambos foram levados para os Campos Elíseos.


"Ouçam-me todos, deuses e deusas, para que eu diga o que, em meu peito, me dita o coração: que nenhum deus, que nenhuma deusa tente infringir minha ordem. Aceitem-na todos, de uma só voz, para que eu termine esse assunto o mais rápido possível. Aquele que eu vir se afastar deliberadamente dos deuses para levar socorro aos troianos ou aos dânaos, sentirá meus golpes e voltará ao Olimpo em estado lastimável - a não ser que eu o agarre e o arremesse ao brumoso Tártaros, bem no fundo do abismo que vai até a parte mais baixa da terra, onde ficam as portas de ferro com umbral de bronze, tão abaixo do Hades quanto o céu está acima da terra. Aí vocês compreenderão o quanto estou acima de todos os deuses. E, se quiserem, tentem agora, para que todos saibam. Suspendam no céu uma corrente de ouro e prendam-se nela todos, deuses e deusas; não arrastarão, do céu para a terra, Zeus, o mestre supremo, por mais que se esforcem. E, francamente, se eu quisesse, puxaria vocês e ao mesmo tempo a terra e o mar; depois, eu prenderia a corrente a um pico do Olimpo, e tudo ficaria suspenso no ar. Tal é o meu poder em comparação com o dos deuses e dos homens".

Hom.Il. 8, 5-27

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