02 novembro 2012

Inciados



Hoje, Dia de Finados e dois dias após a morte do meu pai, meu amigo Leo Cinezi me questionou "Finados ou Iniciados? O fim de uma vida é o recomeço para a outra! Finados é um dia de celebração. Não é um dia de tristeza! É uma celebração da vida eterna dos nossos pares próximos e amados. É um dia de amor. Amor ao próximo! Amor por alguém que nunca nos deixou nem deixará. É o Dia de Todos os Mortos, pois sucede o Dia de Todos os Santos que é o dia daqueles que morreram em estado de graça e não foram canonizados". 

"É importante citar que Finados é herança dos cultos pagãos dos celtas e dos gauleses. A festa dos espíritos era celebrada pelos celtas em 1º de novembro. Nessa data os celtas ofereciam sacrifícios para liberar os espíritos que eram aprisionados por Samhain, o príncipe das trevas", explica Leo. Samhaim era o festival em que se comemorava a passagem do ano dos celtas. Marca o fim do ano velho e o começo do ano novo. Segundo alguns autores, grande parte da tradição do Halloween, do Dia de Todos-os-Santos, do Dia dos Mortos e Dia dos fiéis defuntos pode ser associada ao Samhaim.

Tudo isto me fez inevitavelmente pensar em Shiva, um dos deuses da Trindade Hindu (Trimúrti): Shiva, "o Destruidor"; Brahma, "o Criador" e Vishnu, "o Mantenedor". Shiva é o deus supremo (Mahadeva), o meditante (Shankara) e o benevolente, onde reside toda a alegria (Shambo) e é também o dançarino (Nataraja). Nataraja cria, conserva e destrói o universo no eterno movimento que foi impulsionado pelo ritmo do tambor e da dança. O tridente que aparece nas ilustrações de Shiva é o trishula. É com essa arma que ele destrói a ignorância nos seres humanos. Suas três pontas representam as três qualidades dos fenômenos: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio).

Shiva é portanto o "O Destruidor", porque dança num círculo de fogo e libera a energia aprisionada na matéria, assim como a chama liberta a luz e o calor aprisionados no combustível. Nada que tenha passado pelo fogo, permanecerá o mesmo: o alimento vai ao fogo e se transforma, a água evapora-se, os corpos cremados transformam-se em cinzas. Assim, Shiva nos convida a transformarmos a nós mesmos através do calor físico, psíquico e espiritual que nos auxilia a transcender os nossos próprios limites.

Shiva é música porque a música se desfaz no ar. Shiva é dança porque o movimento não pode ser aprisionado. Shiva é destruir o antigo, o estagnado, o fixo, para abrir espaço para o novo, o flúido e o móvel. Shiva é vida e Shiva é também morte. Shiva é o renascimento depois da morte.

Não há fim, não há princípio...