Morte e renascimento: o Sol nasce toda manhã, mas à tarde morre me meio
a tons de sangue. A Lua crescente se torna cheia e míngua para ser negra. A
Terra brota em cores e aromas na primavera; verde, o verão se faz dourado e
escorrega em tons alaranjados do outono até a alva desolação invernal. Mas Sol,
Lua e Terra tornam a nascer e cumprem seu ciclo. A semente morre para dar lugar
a uma nova planta e a árvore ao morrer, deixa no solo a semente. É assim que
acontece o ciclo da vida, da morte e do renascimento.
Quando nascemos, inspiramos pela primeira vez e trazemos pra dentro de
nós a atmosfera deste planeta que escolhemos para viver. Quando morremos,
expiramos pela última vez e devolvemos ao planeta esta pequeníssima parte de sua atmosfera. A cada respiração,
ao inspirar, reafirmamos nosso nascimento e, ao expirar, antecipamos nossa
morte. O coração se contrai e impulsiona o sangue para a vida e se relaxa e
recebe em si a morte. Pela manhã nascemos para um novo dia e à noite morremos
em direção ao sono. A vida não é o contrário da morte: a vida é feita de
diversos ciclos de nascimento e morte.
Quem nunca mudou com o tempo?
Aos poucos você vai deixando de escutar certas músicas, de usar certas roupas,
de falar com certas pessoas. A vida é um ciclo, os amigos de hoje não serão mais
os amigos de amanhã. Mudar faz parte do ciclo da vida, embora a essência seja
sempre a mesma. Para o pensamento chinês, não há o que mude, há apenas o mudar.
A mutação seria o caráter mesmo do mundo; mas a mutação é, em si mesma, invariável,
ela sempre existe: tudo no mundo muda, menos a mutação constante. Portanto,
"I" em Chinês significa mutação e não-mutação. Subjaz, à complexidade do
universo, uma "simplicidade" que consiste nos princípios que estão
por trás de todos os ciclos. Ao fluir com as circunstâncias se evita o atrito e
portanto a resistência: esse é o caminho do homem sábio.
O ciclo se faz representar
pela Fênix, pássaro sagrado da Mitologia Grega que, quando morre, entra em
autocombustão e, passado algum tempo, renasce de suas próprias cinzas. Grande
ave de fogo, possui penas brilhantes, douradas e vermelho-arroxeadas, é símbolo
da imortalidade e do renascimento espiritual e, mais uma vez, a imortalidade
reside na aceitação da própria morte, que conduz ao renascimento. No Egito,
similarmente, havia a ave Bennu, quando a ave sentia a morte se aproximar, construía
uma pira de ramos de canela, sálvia e mirra em cujas chamas morria queimada.
Mas das cinzas erguia-se então uma nova ave, que colocava piedosamente os
restos da sua progenitora num ovo de mirra e voava com ele até Heliópolis, onde
o colocava no Altar do Sol. Também na Índia, aparece uma versão local do mito
da Fênix: trata-se de uma ave que, ao atingir a idade de 500 anos, realiza uma
autoimolação às vésperas da Primavera em um altar, que foi especialmente
preparado para esse fim por um sacerdote. Porém, é a própria ave que acende o
fogo. No dia seguinte, dentre as cinzas, surge uma larva que logo se transforma
em um pequeno filhote de uma ave. Em seguida, quando ela cresce, todos
reconhecem nela a forma, o brilho e a beleza característicos da eterna Fênix.
Porém, vê-se algo distinto em seus olhos e no brilho de suas penas: a Fênix
ressuscitou mais bela, mais poderosa e mais grandiosa. Na China antiga a Fênix
foi representada como uma ave maravilhosa e transformada em símbolo da felicidade,
da virtude, da força, da liberdade, e da inteligência. Na sua plumagem, brilham
as cinco cores sagradas: púrpura, azul, vermelho, branco e dourado, representado os cinco elementos.
A Fênix é, assim, um símbolo
para toda forma de vida que, igual à ave mitológica, tem um princípio e um fim
para depois recomeçar e terminar novamente, sucessivas vezes; isso acontece
para os éons que duram as vidas de galáxias e universos, da mesma forma que
para a efêmera existência de humanos. Na Alquimia, em sua etapa denominada Calcinatio, quando a matéria-prima com
que o alquimista está trabalhando chega ao seu ponto máximo de putrefação e,
aparentemente, não teria mais utilidade; nessa fase a matéria-prima é queimada,
ou calcinada (ou ainda, sacrificada) e com suas cinzas o opus alquímico entra em uma nova etapa.
Que a todo fim, se siga um novo princípio! Feliz Ano Novo!
Que a todo fim, se siga um novo princípio! Feliz Ano Novo!
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