Hoje, Dia de Finados e dois dias após a morte do meu pai, meu amigo Leo Cinezi me questionou "Finados ou Iniciados? O fim de uma vida é o recomeço para a outra! ".
Samhaim era o festival em que se comemorava a passagem do ano dos celtas. Marca o fim do ano velho e o começo do ano novo. Segundo alguns autores, grande parte da tradição do Halloween, do Dia de Todos-os-Santos, do Dia dos Mortos e Dia dos fiéis defuntos pode ser associada ao Samhaim.
Tudo isto me fez inevitavelmente pensar em Shiva, um dos deuses da Trindade Hindu (Trimúrti): Shiva, "o Destruidor"; Brahma, "o Criador" e Vishnu, "o Mantenedor". Shiva é o deus supremo (Mahadeva), o meditante (Shankara) e o benevolente, onde reside toda a alegria (Shambo) e é também o dançarino (Nataraja). Nataraja cria, conserva e destrói o universo no eterno movimento que foi impulsionado pelo ritmo do tambor e da dança. O tridente que aparece nas ilustrações de Shiva é o trishula. É com essa arma que ele destrói a ignorância nos seres humanos. Suas três pontas representam as três qualidades dos fenômenos: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio).
Shiva é portanto o "O Destruidor", porque dança num círculo de fogo e libera a energia aprisionada na matéria, assim como a chama liberta a luz e o calor aprisionados no combustível. Nada que tenha passado pelo fogo, permanecerá o mesmo: o alimento vai ao fogo e se transforma, a água evapora-se, os corpos cremados transformam-se em cinzas. Assim, Shiva nos convida a transformarmos a nós mesmos através do calor físico, psíquico e espiritual que nos auxilia a transcender os nossos próprios limites.
Shiva é música porque a música se desfaz no ar. Shiva é dança porque o movimento não pode ser aprisionado. Shiva é destruir o antigo, o estagnado, o fixo, para abrir espaço para o novo, o flúido e o móvel. Shiva é vida e Shiva é também morte. Shiva é o renascimento depois da morte.
Não há fim, não há princípio...