Quantum: um salto para a evolução
Por Bernardo de Gregorio
A nossa consciência tem maior peso sobre nós mesmos do que a opinião do mundo inteiro. O meio externo em que vivemos, sem sobra de dúvida, é um fator de grande influência, mas nosso meio interno pode e deve ser o elemento de maior peso. Sob este prisma, a questão não é “salvar a natureza”, pois a Natureza é a essência constante que define a existência do nosso sitema particular. A questão não é “o que podemos fazer pelo planeta”, pois o planeta é uma entidade auto-existente que cumpre sua trajetória no espaço-tempo, independentemente da ação humana. A questão não é “preservar o meio ambiente”, pois o meio ambiente, amigável ou hostil, sempre seguirá existindo. A questão não é “economizar energia”, porque a Lei da Conservação de Energia estabelece que a quantidade total de energia em um sistema isolado permanece constante e tal energia apenas pode mudar de forma. A questão não é “que mundo deixaremos para nossos filhos”, mas sim “existirão nossos netos neste mundo?”. A questão é pois: “o que deve ser mudado em nossa consciência para que passemos a agir de forma a propiciar nossa própria evolução e não nosso auto-aniquilamento?”.
Exatamente: a questão ecológica é muito mais uma questão existencial humana e muito menos um problema global. Lembrem-se: a Terra sobreviveu à extinção dos dinossauros e antes disto já havia sobrevivido a outras tantas extinções em massa. Isto quer dizer que pode sobreviver tranquilamente a mais uma “fase crítica”. A Humanidade é que se encontra num limiar delicado para sua própria sobrevivência e a resposta às questões sobre o destino da Humanidade encontram-se numa possível transformação, de dentro para fora, desta mesma Humanidade. A grande pergunta é então “de que natureza deve ser esta mudança específica para que seja efetiva?”. A resposta possível me parece uma só: de natureza espiritual.
A Espiritualidade é uma dimensão da pessoa humana que traduz o modo de viver característico que busca alcançar a plenitude da sua relação com o Transcendente. Segundo George Brown, a Espiritualidade “traduz uma dimensão do Ser Humano que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração”. Espiritualidade é um estado de consciência; é reconhecer em si a Vida, e a mesma Vida em tudo e em todos. É consciência não-condicionada pela mente. É consciência livre da mente, para ser o que é: não aquilo que pensamentos e crenças dizem ser. As palavras em um ensinamento espiritual apenas apontam para o estado de consciência essencial do ser humano. Alcançado esse estado de consciência, o Ser Humano vive a vida na Terra a partir dessa liberdade, expansividade e maestria sobre a realidade interna e externa, pois está alinhado com a essência daquilo que o criou: a vasta inteligência criativa que permeia e dá Vida a todo o Universo. Refiro-me a esta natureza espiritual.
Nossa sociedade está desesperadamente em busca de sua própria natureza espiritual e não sabe nem ao menos que é exatamente isto que lhe falta. Devaneia em busca de uma resposta exterior que lhe supra as necessidades. Arrogante, imagina que seu problema particular se estende a todo o planeta e diz: ”salvemos a natureza!”. A poluição atmosférica não é problema. O problema é a poluição do Pensar que gera o modo de vida que causa o efeito estufa. A escassez de alimento não é problema. O problema é a represssão psíquica individual, a “fome” do Sentir que se reflete na estruturação injusta da nossa sociedade e nos impede de reconhecer nosso semelhante como tal e que causa a fome no mundo. O lixo não é problema. O problema é o descontrole infantil e absurdo do Querer que nos leva ao consumo e ao descarte, excrescências da atividade humana e estas, à degradação do meio ambiente. Como se resolvem estes problemas? Pensando, sentindo e querendo adequada e equilibradamente.
Tendo testemunhado o crescente uso de tranquilizantes e álcool no século XX, Bernard Lievegoed em seu livro “O Homem no Limiar” faz uma ampla exposição a respeito do "cruzamento do limiar", vivido pela humanidade contemporânea. Que limiar é esse? Nada mais, nada menos do que as duas realidades inacessíveis aos sentidos humanos comuns: a essência das coisas exteriores e o âmago do próprio ser. A transposição consciente das barreiras que aí se impõem, confere a segurança necessária a essa decisiva travessia. Sem drogas, sem gurus, sem artifícios de qualquer espécie - eis como o homem de hoje deve defrontar-se com esses instigantes portais.
“O uso de reagentes bioquímicos ou de drogas tornaria possível aos seres humanos provarem o sabor da experiência mística? Nada pode ser mais errado nem estar mais distante da resposta verdadeira”, diz-nos o sábio indiano Gopi Krishna em seu livro “O Despertar da Kundalini”. E continua: “não há dúvida de que a experiência mística implica essencialmente numa transformação biológica do cérebro, mas essa transformação é do mesmo tipo da concepção e do crescimento de um embrião. (...) O estado místico autêntico assinala uma mudança na profundidade e toda a personalidade humana e o desenvolvimento de uma nova percepção. (...) Acreditar que métodos superficiais, tais como drogas, hipnose, meditação orientada, mantras ou estados mentais passivos e sonolentos possam levar à iluminação é ter um conhecimento superficial da experiência mística. A experiência mística, mesmo quando esporádica, denota um salto para uma dimensão mais ampla da consciência que é o alvo da evolução humana”.
“A inextinguível centelha da indagação no ser humano jamais terá repouso feliz enquanto não encontrar a resposta para seus próprios problemas”, continua Gopi Krishna. “Tal resposta jamais poderá vir do intelecto, que já está cambaleando sob o peso dos conhecimentos que reuniu até momento presente. Mas sim virá através de um canal superior de percepção mística, canal que a humanidade deve desenvolver para realizar seu destino”. Diz ele ainda em outra parte: “toda a trama da vida humana, suas estruturas sociais, políticas, religiosas e educacionais, terá de ser remodelada para se adaptar a esta necessidade. O cultivo da mente e o rearmamento moral são os dois ingredientes mais essenciais para esse inevitável reajustamento. A humanidade encontra-se agora frente a frente com a situação mais crítica de sua carreia evolutiva: uma situação que pede reflexão, calma, estudo e pesquisa e não expedientes aleatórios que estamos adotando no momento”.
Este “despertar” a que Gopi Krishna e Bernard Lievegoed se referem, faz-se “à moda quântica”. Quantum, do Latim (plural: quanta), "quantidade”, é termo genérico que significa uma quantidade, usualmente elementar, unitária, de algo de natureza qualquer, abstrata ou concreta. Na Mecânica Quântica, esta palavra refere-se a uma unidade indivisível que a Teoria Quântica atribui a certas quantidades físicas, como a energia de um elétron ligado a um átomo em repouso, por exemplo. A descoberta de que as ondas eletromagnéticas podem ser explicadas como uma emissão de “pacotes de energia” chamados quanta (estas unidades descontínuas) conduziu ao ramo da Física que lida com sistemas atômicos e subatômicos. Este ramo da Física é chamado hoje Mecânica Quântica. Segundo esta visão, em determinados sitemas, como por exemplo o elétron girando ao redor do núcleo de um átomo, a energia não se troca de modo contínuo, mas sim de modo descontínuo, em “saltos”, em transições cujas energias podem ou não ser iguais umas às outras. Por analogia, podemos dizer que o “despertar” da consciência humana, se possível, apresentar-se-á num “salto quântico”.
A questão agora é então: “onde está a chave, qual este quantum, que é capaz de proceder à transformação necessária?”. Existe uma idéia muito difundida por aí de que se um certo número de pessoas, uma quantidade padrão chamada de “massa crítica”, adquire um conhecimento ou hábito, então toda a Humanidade vai adquirir também. A lenda afirma que se um número suficiente de pessoas pensar qualquer coisa, então um "campo mental" formado pelos pensamentos de todas essas pessoas será tão grande que contagiará todas as outras pessoas. Algo como se fosse uma “osmose mental”. Não é a isto que me refiro. Refiro-me a um salto quântico da consciência pessoal, individual. Tal salto ocorre em cada indivíduo, de forma absoltamente independente dos demais. Evidentemente é a somatória destes saltos isolados de consciência que significará a evolução da Humanidade no coletivo. Evidente também é que há uma influência direta sobre o comportamento das massas proveniente do comportamento de determinadas pessoas-chave, “formadores de opinião”, e do da maioria da população sobre minorias “resistentes”. Mas a mudança essencial não ocorrerá por mágica: é necessário que a cultivemos em nós, cada qual dentro de si mesmo. No caso, a mudança ocorrerá ao trabalharmos sobre a qualidade da nossa própria consciência, para, através dela, transformarmos nossos atos e, através deles, o mundo.
Mesmo com a confissão do criador desta idéia de “massa crítica” de que a história toda foi inventada, muitos preferem acreditar no eufemismo de que podemos mudar o mundo sentados em nossa casa pensando coisas boas, ao invés de "botar a mão na massa" e agirmos pela melhoria da realidade. Para piorar a tendência à inércia, há também o mito de que no ano de 2012, segundo o Calendário Maia e profecias afins, uma grande transformação resgatará a Terra (ou a Humanidade). Eu até concordo que por volta desta data estaremos sim provavelmente enfrentando uma grande quantidade de “catástrofes”, que nada mais serão do que as consequências de nosso descaso para com a Humanidade e seu destino. Catástrofes estas que serão, pois, fruto do nosso egoísmo, de nossos delírios infantis de poder e auto-afirmação, de nossa cegueira para com nossa verdadeira essência espiritual. Porém, que isto per se leve à elevação quântica da consciência humana, eu duvido muito. As catástrofes nos levam à destruição e não à evolução como espécie. A Lei da Seleção Natural obriga que os menos adaptados pereçam e apenas os adaptados sobrevivam. Na atualidade a espécie deste planeta que se apresenta mais adaptada e, portanto, fadada à sobrevivência, são as baratas!
É preciso processar esta mudança qualitativa no cerne de nossa consciência individual o mais rapidamente possível e de uma vez por todas. O processo evolutivo tem um movimento constante e no plano cósmico tem uma velocidade uniforme. Porém apresenta-se de modo diferente no plano individual, pois depende do estado de ampliação da consciência espiritual de cada indivíduo, a qual se reflete na capacidade de pensar, sentir e agir, ou seja, no nosso livre-arbítrio. “É certo”, diz-nos Ramacháraca em seu livro “Catorze Lições de Filosofia Iogue”, “que em muitos homens e mulheres, a mente espiritual se revela lenta e gradualmente, e ainda que a pessoa possa sentir um constante aumento de conhecimento e consciência espiritual, pode não haver experimentado uma notada e repentina mudança. Outros têm tido momentos do que é conhecido como iluminação, nos quais se acreditavam elevados quase fora do seu estado normal, e lhes parecia passar a um plano de existência ou de consciência mais elevado. Estas experiências pessoais os deixavam mais ‘adiantados’ do que antes, ainda que não pudessem trazer à sua consciência uma clara recordação do que haviam experimentado, enquanto se encontravam nesse exaltado estado da mente. Esses fenômenos, por assim dizer, espirituais têm-se dado com muitas pessoas, em diferentes formas e graus, de todas as crenças religiosas, e têm sido geralmente associadas a algum aspecto da crença religiosa particular, professada pela pessoa que experimenta a iluminação. Mas muitos reconhecem todas essas experiências como diferentes formas de uma só e mesma coisa - o amanhecer da consciência espiritual - o desenvolvimento da mente espiritual”.
“Alguns escritores têm chamado a esta experiência consciência cósmica”, continua Ramacháraca, “nome muito apropriado, pois a iluminação - pelo menos em seus aspectos mais elevados - põe o indivíduo em contato com a totalidade da Vida, fazendo sentir uma sensação de parentesco com toda a Vida, alta ou baixa, grande ou pequena, boa ou má”. É exatamente esta noção cósmica que arrebata o centro da consciência do ego e de suas distorções, para uma visão ampliada e generalista que tende a harmonizar o indivíduo e o Universo: a essência das coisas exteriores e o âmago do próprio ser. “A alguns, essas experiências chegaram como um profundo sentimento de reverência que tomou completa posse deles, por alguns momentos ou mais tempo, enquanto que a outros se afigurava que se achavam num sonho e chegaram a ser conscientes de uma exaltação espiritual, acompanhada de uma sensação de estar circundando os compenetrados por uma luz brilhante. Essas experiências produzem uma mudança na mente daquele que passa por elas e que depois nunca torna a ser o mesmo que de antes”. Eis a chave quântica para a transformação necessária.
Diz a tradição hinduísta que o processo evolutivo de cada indivíduo está (ou deveria estar) baseado nos princípios dos Purusharthas: Dharma (ética e dever), Artha (conquista da matéria), Kama (conquista emocional) e Moksha (libertação em vida). É dito que todos os homens seguem o Kama (prazer, físico ou emocional) e Artha (poder, fama e riqueza), mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos, com o Dharma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior é infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, Moksha, ou liberação do ciclo da vida, morte, e da existência dual.
Desta feita, sugiro ao leitor que gaste um pouco de seu tempo e que se faça as seguintes perguntas, procurando em si mesmo respostas tão francas e honestas quanto permitir sua própria consciência. Medite sobre o resultado deste exercício.
Exatamente: a questão ecológica é muito mais uma questão existencial humana e muito menos um problema global. Lembrem-se: a Terra sobreviveu à extinção dos dinossauros e antes disto já havia sobrevivido a outras tantas extinções em massa. Isto quer dizer que pode sobreviver tranquilamente a mais uma “fase crítica”. A Humanidade é que se encontra num limiar delicado para sua própria sobrevivência e a resposta às questões sobre o destino da Humanidade encontram-se numa possível transformação, de dentro para fora, desta mesma Humanidade. A grande pergunta é então “de que natureza deve ser esta mudança específica para que seja efetiva?”. A resposta possível me parece uma só: de natureza espiritual.
A Espiritualidade é uma dimensão da pessoa humana que traduz o modo de viver característico que busca alcançar a plenitude da sua relação com o Transcendente. Segundo George Brown, a Espiritualidade “traduz uma dimensão do Ser Humano que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração”. Espiritualidade é um estado de consciência; é reconhecer em si a Vida, e a mesma Vida em tudo e em todos. É consciência não-condicionada pela mente. É consciência livre da mente, para ser o que é: não aquilo que pensamentos e crenças dizem ser. As palavras em um ensinamento espiritual apenas apontam para o estado de consciência essencial do ser humano. Alcançado esse estado de consciência, o Ser Humano vive a vida na Terra a partir dessa liberdade, expansividade e maestria sobre a realidade interna e externa, pois está alinhado com a essência daquilo que o criou: a vasta inteligência criativa que permeia e dá Vida a todo o Universo. Refiro-me a esta natureza espiritual.
Nossa sociedade está desesperadamente em busca de sua própria natureza espiritual e não sabe nem ao menos que é exatamente isto que lhe falta. Devaneia em busca de uma resposta exterior que lhe supra as necessidades. Arrogante, imagina que seu problema particular se estende a todo o planeta e diz: ”salvemos a natureza!”. A poluição atmosférica não é problema. O problema é a poluição do Pensar que gera o modo de vida que causa o efeito estufa. A escassez de alimento não é problema. O problema é a represssão psíquica individual, a “fome” do Sentir que se reflete na estruturação injusta da nossa sociedade e nos impede de reconhecer nosso semelhante como tal e que causa a fome no mundo. O lixo não é problema. O problema é o descontrole infantil e absurdo do Querer que nos leva ao consumo e ao descarte, excrescências da atividade humana e estas, à degradação do meio ambiente. Como se resolvem estes problemas? Pensando, sentindo e querendo adequada e equilibradamente.
Tendo testemunhado o crescente uso de tranquilizantes e álcool no século XX, Bernard Lievegoed em seu livro “O Homem no Limiar” faz uma ampla exposição a respeito do "cruzamento do limiar", vivido pela humanidade contemporânea. Que limiar é esse? Nada mais, nada menos do que as duas realidades inacessíveis aos sentidos humanos comuns: a essência das coisas exteriores e o âmago do próprio ser. A transposição consciente das barreiras que aí se impõem, confere a segurança necessária a essa decisiva travessia. Sem drogas, sem gurus, sem artifícios de qualquer espécie - eis como o homem de hoje deve defrontar-se com esses instigantes portais.
“O uso de reagentes bioquímicos ou de drogas tornaria possível aos seres humanos provarem o sabor da experiência mística? Nada pode ser mais errado nem estar mais distante da resposta verdadeira”, diz-nos o sábio indiano Gopi Krishna em seu livro “O Despertar da Kundalini”. E continua: “não há dúvida de que a experiência mística implica essencialmente numa transformação biológica do cérebro, mas essa transformação é do mesmo tipo da concepção e do crescimento de um embrião. (...) O estado místico autêntico assinala uma mudança na profundidade e toda a personalidade humana e o desenvolvimento de uma nova percepção. (...) Acreditar que métodos superficiais, tais como drogas, hipnose, meditação orientada, mantras ou estados mentais passivos e sonolentos possam levar à iluminação é ter um conhecimento superficial da experiência mística. A experiência mística, mesmo quando esporádica, denota um salto para uma dimensão mais ampla da consciência que é o alvo da evolução humana”.
“A inextinguível centelha da indagação no ser humano jamais terá repouso feliz enquanto não encontrar a resposta para seus próprios problemas”, continua Gopi Krishna. “Tal resposta jamais poderá vir do intelecto, que já está cambaleando sob o peso dos conhecimentos que reuniu até momento presente. Mas sim virá através de um canal superior de percepção mística, canal que a humanidade deve desenvolver para realizar seu destino”. Diz ele ainda em outra parte: “toda a trama da vida humana, suas estruturas sociais, políticas, religiosas e educacionais, terá de ser remodelada para se adaptar a esta necessidade. O cultivo da mente e o rearmamento moral são os dois ingredientes mais essenciais para esse inevitável reajustamento. A humanidade encontra-se agora frente a frente com a situação mais crítica de sua carreia evolutiva: uma situação que pede reflexão, calma, estudo e pesquisa e não expedientes aleatórios que estamos adotando no momento”.
Este “despertar” a que Gopi Krishna e Bernard Lievegoed se referem, faz-se “à moda quântica”. Quantum, do Latim (plural: quanta), "quantidade”, é termo genérico que significa uma quantidade, usualmente elementar, unitária, de algo de natureza qualquer, abstrata ou concreta. Na Mecânica Quântica, esta palavra refere-se a uma unidade indivisível que a Teoria Quântica atribui a certas quantidades físicas, como a energia de um elétron ligado a um átomo em repouso, por exemplo. A descoberta de que as ondas eletromagnéticas podem ser explicadas como uma emissão de “pacotes de energia” chamados quanta (estas unidades descontínuas) conduziu ao ramo da Física que lida com sistemas atômicos e subatômicos. Este ramo da Física é chamado hoje Mecânica Quântica. Segundo esta visão, em determinados sitemas, como por exemplo o elétron girando ao redor do núcleo de um átomo, a energia não se troca de modo contínuo, mas sim de modo descontínuo, em “saltos”, em transições cujas energias podem ou não ser iguais umas às outras. Por analogia, podemos dizer que o “despertar” da consciência humana, se possível, apresentar-se-á num “salto quântico”.
A questão agora é então: “onde está a chave, qual este quantum, que é capaz de proceder à transformação necessária?”. Existe uma idéia muito difundida por aí de que se um certo número de pessoas, uma quantidade padrão chamada de “massa crítica”, adquire um conhecimento ou hábito, então toda a Humanidade vai adquirir também. A lenda afirma que se um número suficiente de pessoas pensar qualquer coisa, então um "campo mental" formado pelos pensamentos de todas essas pessoas será tão grande que contagiará todas as outras pessoas. Algo como se fosse uma “osmose mental”. Não é a isto que me refiro. Refiro-me a um salto quântico da consciência pessoal, individual. Tal salto ocorre em cada indivíduo, de forma absoltamente independente dos demais. Evidentemente é a somatória destes saltos isolados de consciência que significará a evolução da Humanidade no coletivo. Evidente também é que há uma influência direta sobre o comportamento das massas proveniente do comportamento de determinadas pessoas-chave, “formadores de opinião”, e do da maioria da população sobre minorias “resistentes”. Mas a mudança essencial não ocorrerá por mágica: é necessário que a cultivemos em nós, cada qual dentro de si mesmo. No caso, a mudança ocorrerá ao trabalharmos sobre a qualidade da nossa própria consciência, para, através dela, transformarmos nossos atos e, através deles, o mundo.
Mesmo com a confissão do criador desta idéia de “massa crítica” de que a história toda foi inventada, muitos preferem acreditar no eufemismo de que podemos mudar o mundo sentados em nossa casa pensando coisas boas, ao invés de "botar a mão na massa" e agirmos pela melhoria da realidade. Para piorar a tendência à inércia, há também o mito de que no ano de 2012, segundo o Calendário Maia e profecias afins, uma grande transformação resgatará a Terra (ou a Humanidade). Eu até concordo que por volta desta data estaremos sim provavelmente enfrentando uma grande quantidade de “catástrofes”, que nada mais serão do que as consequências de nosso descaso para com a Humanidade e seu destino. Catástrofes estas que serão, pois, fruto do nosso egoísmo, de nossos delírios infantis de poder e auto-afirmação, de nossa cegueira para com nossa verdadeira essência espiritual. Porém, que isto per se leve à elevação quântica da consciência humana, eu duvido muito. As catástrofes nos levam à destruição e não à evolução como espécie. A Lei da Seleção Natural obriga que os menos adaptados pereçam e apenas os adaptados sobrevivam. Na atualidade a espécie deste planeta que se apresenta mais adaptada e, portanto, fadada à sobrevivência, são as baratas!
É preciso processar esta mudança qualitativa no cerne de nossa consciência individual o mais rapidamente possível e de uma vez por todas. O processo evolutivo tem um movimento constante e no plano cósmico tem uma velocidade uniforme. Porém apresenta-se de modo diferente no plano individual, pois depende do estado de ampliação da consciência espiritual de cada indivíduo, a qual se reflete na capacidade de pensar, sentir e agir, ou seja, no nosso livre-arbítrio. “É certo”, diz-nos Ramacháraca em seu livro “Catorze Lições de Filosofia Iogue”, “que em muitos homens e mulheres, a mente espiritual se revela lenta e gradualmente, e ainda que a pessoa possa sentir um constante aumento de conhecimento e consciência espiritual, pode não haver experimentado uma notada e repentina mudança. Outros têm tido momentos do que é conhecido como iluminação, nos quais se acreditavam elevados quase fora do seu estado normal, e lhes parecia passar a um plano de existência ou de consciência mais elevado. Estas experiências pessoais os deixavam mais ‘adiantados’ do que antes, ainda que não pudessem trazer à sua consciência uma clara recordação do que haviam experimentado, enquanto se encontravam nesse exaltado estado da mente. Esses fenômenos, por assim dizer, espirituais têm-se dado com muitas pessoas, em diferentes formas e graus, de todas as crenças religiosas, e têm sido geralmente associadas a algum aspecto da crença religiosa particular, professada pela pessoa que experimenta a iluminação. Mas muitos reconhecem todas essas experiências como diferentes formas de uma só e mesma coisa - o amanhecer da consciência espiritual - o desenvolvimento da mente espiritual”.
“Alguns escritores têm chamado a esta experiência consciência cósmica”, continua Ramacháraca, “nome muito apropriado, pois a iluminação - pelo menos em seus aspectos mais elevados - põe o indivíduo em contato com a totalidade da Vida, fazendo sentir uma sensação de parentesco com toda a Vida, alta ou baixa, grande ou pequena, boa ou má”. É exatamente esta noção cósmica que arrebata o centro da consciência do ego e de suas distorções, para uma visão ampliada e generalista que tende a harmonizar o indivíduo e o Universo: a essência das coisas exteriores e o âmago do próprio ser. “A alguns, essas experiências chegaram como um profundo sentimento de reverência que tomou completa posse deles, por alguns momentos ou mais tempo, enquanto que a outros se afigurava que se achavam num sonho e chegaram a ser conscientes de uma exaltação espiritual, acompanhada de uma sensação de estar circundando os compenetrados por uma luz brilhante. Essas experiências produzem uma mudança na mente daquele que passa por elas e que depois nunca torna a ser o mesmo que de antes”. Eis a chave quântica para a transformação necessária.
Diz a tradição hinduísta que o processo evolutivo de cada indivíduo está (ou deveria estar) baseado nos princípios dos Purusharthas: Dharma (ética e dever), Artha (conquista da matéria), Kama (conquista emocional) e Moksha (libertação em vida). É dito que todos os homens seguem o Kama (prazer, físico ou emocional) e Artha (poder, fama e riqueza), mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos, com o Dharma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior é infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, Moksha, ou liberação do ciclo da vida, morte, e da existência dual.
Desta feita, sugiro ao leitor que gaste um pouco de seu tempo e que se faça as seguintes perguntas, procurando em si mesmo respostas tão francas e honestas quanto permitir sua própria consciência. Medite sobre o resultado deste exercício.
- Que parte de mim eu desconheço?
- Que parte de mim sente-se constantemente sufocada, angustiada e constrita?
- Que parte de mim eu evito encarar quando evito me envolver emocionalmente com o sofrimento de meu semelhante?
- Que parte de mim é esmagada por minhas constantes auto-críticas e culpas?
- Que parte de mim é egoísta demais para perceber a existência dos demais seres à minha volta?
- Que parte de mim é contida pelo medo que gela minha alma?
- Que parte de mim eu procuro reprimir quando me entrego a intermináveis rituais de luxúria, gula, avareza, preguiça, ira, inveja e soberba?
- Que parte de mim guarda em si a chave quântica que pode mudar minha consciência?
- Que parte de mim é eterna?